segunda-feira, agosto 07, 2006

A mercearia do sr. Manuel

Antes dos grandes hipermercados, existiam (e ainda existem sob a forma de sobreviventes), as mercearias. Na minha rua havia uma mercearia, “gerida” pelo sr. Manuel, de espaço bem reduzido e muito escura, com gavetões em madeira onde armazenava o grão, e os vários tipos de feijão que comercializava ao litro.

Tinha um frigorífico para o queijo flamengo, iogurtes Bom Dia, queijo fresco, fiambre e refrigerante Fruto Real. O congelador só dava para os gelados FÁ e para a pescada. Num duns armários de porta de vidro, eram exibidos torresmos e toucinho. O papel pardo abundava em cima da bancada de mármore como abundam agora os sacos nas caixas dos supermercados.

O Sr. Manuel já tinha alguma idade. Muito careca, arrepanhava os poucos cabelos que tinha, bastante compridos, e com a ajuda da brilhantina, espalhava-os por cima da cabeça, para dar uma aparência menos calva. Eu costumava ir lá à Sexta-Feira ao final da tarde com a minha mãe, para telefonar ao meu pai a combinar o jantar. Lá íamos nós até à Baixa, fazer as compras da semana à Manutenção Militar e depois jantar ao Verde Mar (para mim era um bitoque oh faxavôr).

Os meus avós é que eram clientes mais assíduos do sr. Manuel. Bem, o destino final das compras era quase sempre o meu estômago: iogurte natural com morangos, gelados, Farinha Predilecta, queijo e Fruto Real de laranja (sim, sim, sempre me alimentei muito bem). Também gostava muito do feijão catarino cozido, com cebola picada e bastante azeite, mas isso agora não interessa nada.

O Sr. Manuel só deixou a mercearia quando ficou doente. Tinha ficado viúvo há pouco tempo e o único filho que tinha havia falecido há cerca de um ano. Deixou-se ficar na mercearia para combater a solidão. Mas a idade não perdoa e o desgosto muito menos. Adoeceu e faleceu pouco tempo depois. A mercearia deu lugar a um talho gerido pelo Nuno, um puto novo. Os meus pais fazem compras lá. Se calhar daqui a uns anos, quando tiver filhos, serão eles a frequentar o talho com os avós que tratarão de comprar os melhores bifes para os netinhos... se calhar...

2 comentários:

Camélia disse...

Eh eh eh a malta p/fazer negócio transforma as lojas em drogarias. Mas lá está, toda a gente teve uma D. Adelaide, um Sr. Manuel ou uma Ti Virgínia na sua rua :D

Beijocas

Camélia disse...

Xiii o Pitrolino!!! Ainda me lembro da avó a falar nele eh eh eh

Powered By Blogger