Tinha eu os meus 9 anos quando o meu pai resolveu comprar um carro. E optou por um carocha de 1966, bege e de estofos bordeaux, que o meu avô, o seu pai, tinha à venda pela módica quantia de 50 contos. Duas semanas mais tarde, o meu pai apareceu com o carro modificado (nada a ver com tunning): em vez de bege, era côr de mel!Lindo!
Ninguém podia vestir cores claras se fosse fazer viagens naquele carro. Quando acelerava, entrava todo o tipo de poeira por baixo. Uma viagem de 3 horas, naquele carro, durava o dobro. De vez em quando caía o pára-choques ou colava a buzina, mas o meu pai dizia: pode ser velhinho, mas tem cá um motor!! Chegou a providenciar-nos verdadeiros momentos de suspense quando ficou apeado em plena linha do comboio e não queria pegar. E o sinal sonoro a gritar desalmadamente. E o comboio a avistar-se no horizonte. Mas lá pegou! E assim foi durando o nosso carocha e nós, apesar de ser apenas um carro, afeiçoámo-nos à “viatura do povo”.
O meu pai costumava ir buscar-me ao liceu às Sextas-Feiras que era o dia em que saía mais tarde quando frequentava o 7º ano. Também era nessa altura que dava a novela D. Santa. Se se recordam a D. Santa era uma viúva italiana, emigrada no Brasil e que ganhava a vida como taxista....NUM CAROCHA! Pois que nada me fazia mais feliz (NOT) do que abalar com o meu pai no carocha e levar uma comitiva de colegas meus, putos ranhosos, a correrem atrás do carro, batendo palmas e cantando:
“Oh Santa, Dona Santa
Como alegre é seu jeito
Na rua, em casa, na igreja
Que mulher sem defeito...”
Aquilo mexia cá com os nervos de uma maneira!!! Estavam nas tintas para o meu pai (que se fartava de rir com a situação, achava graça aos miúdos). Corriam atrás do carro a cantar e pronto!! Agora imaginem a festa que foi quando os meus avós me foram buscar numa “pão de forma”!!! Perguntaram logo se a minha família tinha quota na Volkswagen. Ainda por cima os estofos da carrinha tinham as molas soltas o que implicava uma viagem inteira sempre a “dizer que sim”. Excepto quando a estrada tinha buracos maiores que os habituais. Aí eram mesmo cabeçadas constantes no tejadilho. Também era perfeita para dar boleia à malta lá da terra depois de um dia de feira. Viajar com galinhas, coelhos, couves e com malta que só se lava aos Domingos e têm os dentes como o teclado dum piano (3 brancas e uma preta)!!!
Mesmo assim. TENHO SAUDADES!!!
sexta-feira, janeiro 26, 2007
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7 comentários:
A parte da Dona Santa é que é boa! Eheheheh.
Olha, o meu pai tinha um Datsun CAS-TA-NHO com uma "listra" A-MA-RE-LA toda à volta. Ui, ui, ca lindo que era. E houve uma vez, já não me lembro porquê, que decidiu pintá-lo. À mão. Com um pincel. Argh. E também gostava - ele e eu - dos Três Duques, e volta e meia entravamos pela janela...
Agora compreendo quando a minha mãe não me quis dar um mini quando me comprou um carro, mas mesmo assim eu preferia, não há carros com mais beleza e sabor a praia num domingo à tarde do que os carro antigos.
desculpai o ultraje da minha ignorancia... mas o que é um pao de forma???
:)
Quintoino: é verdade, o carro era um ganda chasso, mas estava todo artilhado, eh eh eh. Realmente o meu pai
C: LOOOOOL acho que não era só o teu pai que tinha assim um Datsun. Lá na rua era a moda!
Celi: de facto estes carros ostentam algum romantismo. Lembram praias e outras paisagens igualmente perfeitas :)
helluah: amori, o pão de forma é aquela carrinha hippie da volkswagem ;)
Ai que post delicioso:)). Adorava ter um carocha ou uma pão de forma. Eu andei num carocha muitas vezes mas isto ainda nos anos 70 era eu um bratt miniatura... Saudades.
Eu lembro-me bem da Dona Santa! Aquela actriz que fazia de filha temperamental da Dona Santa tinha cá um para-choques que deixava o bratt adolescente vidrado no ecrãn.
Olha que numalembro dessa actriz do pára-choques....bem, mau mau era ficares vidrado no ecrã por causa da D. Santa loooool
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